sábado, 17 de março de 2012

:::: HEMORRAGIA DA SOMBRA ::::


O fôlego axiomático
que entope os brônquios,
ataca-me como a estaca
de prata cravada no
peito do vampiro.

Grito rascunhos de silêncio
ao sentir a alma cortada.
Pareço estar imerso no
oceano mais profundo.

A filosofia do sofrimento
aumenta a dor dualística
conscientemente sentida;
Orquestra de ondas sinápticas
sintonizadas com a morte.

Lacro as pálpebras e digo:
- Haja trevas sobre a terra!
Semelhante a deus me torno,
no entorno das línguas antigas.
Sou minha própria religião.

Aqui dentro mora milhares
de cópias de mim mesmo.
Legião ligada às coisas secretas;
A sanguessuga me consome...
- Alimenta-se de escuridão.

segunda-feira, 12 de março de 2012

:::: RETRATO ANÔNIMO ::::

Percebo os vestígios 
da arte humana
tão artificialmente
empregada na vida.

Vejam só a solidão!
Em cada parada de ônibus,
ali estão os mudos,
aglomerados à espera
de outro dia apático.

Nenhuma palavra proferida,
ou mesmo expressão de ânimo.
Seres frios com rostos anônimos;
- Não há tempo para dar mão amiga.

Todos juntos e segregados
compartilham a mesma ferida.
Chaga exposta exaustivamente...
Nas identidades urbanas
o ócio estigmatiza a alma;
- Face secreta da alienação. 

:::: SINTOMATOLOGIA DO MISTÉRIO ::::

A senescência precoce
enruga minhas letras,
amassa as páginas dos
diárias onde escrevo
com suspiros diabéticos,
e mantém meu ser escravo
dessa prática libertadora.


Envelheço dez anos num dia,
mas cada palavra só rejuvenesce.
Minhas lágrimas tornaram-se pedra
por não seguirem seu curso natural;
Construí castelos de estalactites.

Minha pele marcada pelo tempo
recobre a osteoporose fetal...
Sinto a dor crônica parassimpática,
a amaciar os filamentos das terminações
nervosas em cada ataque de riso
sintetizado na solidão dialética.

Essa arquitetura assimétrica
das veias e artérias do corpo
diminui tal pressão sanguínea;
Desfaleço trigonometricamente
no aconchego do insulto catártico.
Homo herético – Ódio e ilusão!

As mitocôndrias celulares
esperam minha dose diária de paz,
compactada no prazer da nicotina.

Sentir a picada dos insetos me compraz.
Apenas desejo ver aspecto do silêncio
que se propaga no processo mutante
da vida e da morte – Exegese futurística
sobre a biografia pré-histórica da evolução. 

sexta-feira, 2 de março de 2012

:::: EPIGÊNESE DE CRONOS ::::

Sempre adianto
dez minutos nos relógios,
fissurado pelo próximo
minuto - no qual penso -
já estar atrasado.

Às vezes esse minuto tornas-se
o buraco negro do tempo.
Mil vezes mais inebriante,
divido em duas partes:
- O ser e a criação!

Tenho um relógio de pulso
com o ponteiro quebrado;
Bússola que aponta na direção
do nada em tudo inanimado.
Penso que minha vida não é
independente dela.

Cada célula morta na face
sepulta-se na força da gravidade
do impacto da palavra morte.
Nesse momento cria-se a angústia;
Pensamento se transforma em arte.

:::: MICROFÍSICA POÉTICA ::::

Já parou para pensar
como seria o brilho
no olhos do tiranossauro rex?
Admirar a cor da íris,
os ângulos das cavidades oculares...
Um torpor artístico calcificado
na iatrogenia da extinção. 

Quiescente a isso que confesso
está o regresso do instinto
a um processamento selvagem.
Sociologia da imagem estética
é o que resulta deste insulto
à filosofia da composição.

Meu protesto desencadeia risos
naqueles que jamais compreenderão.

Fascínio retrógrada - Assim, dizem.
Mas, toda busca não é ilusão?
A verdade na arte nada mais é
que uma bela mentira, porém,
bem detalhada e complexa;
Tramas traduzidas em interpretação. 

:::: POESIA RASGADA ::::

Os cães 
reviram
poesia no
lixo.
Palavras
descartáveis
talvez?

Até que
ponto
desejamos chegar
se apenas usamos
vírgulas
no pensamento?

Somos presa
fácil do ridículo,
articulado
no sujeito
da mesma
oração.

Joguei poesia
pela
descarga;
Chorei e disse:
Adeus!
O escritor, assim,
torna-se
mãe. 

:::: PERGUNTAS ::::

Será flerte ou infarto? 
A anarquia sexual reina
nos submundos das moléculas,
que excitam-se na inquietude
dessa epilepsia existencial.

Aumento expansivo substancial 
dos choques anafiláticos
resultantes do crescimento sórdido
na geometria espacial.
Será isso o expresso para o infinito?

Não sei ao certo o que seria;
Cabe a física ou à filosofia
responder questões tais?

Agarro o ensejo escondido
no baricentro do desejo e digo:
- Não saberei jamais!